11 de Maio de 2000
Ela acorda, dói-lhe o estômago. Pensa na noite passada, sorri. Sente as pernas cansadas, o peito dormente, sente o cheiro dele por todo o corpo, mergulha no odor. Olha-se ao espelho, vê o rímel e o risco dos olhos a escorrer pela face. Arde-lhe a perna, observa, vê arranhões. Bastantes arranhões. Desce, come um iogurte, lava a cara, lava os dentes, arruma a mala. Põe os óculos e saí de casa.
Ele acorda. Tem o soutien ao pé, dói-lhe a cabeça. Dormiu poucas horas, tem de abrir a loja. Sente leves dores nas pernas e nos braços. Lava a cara, lava os dentes. Limpa a loja. Olha para o sofá e sorri. Guarda a roupa dela no quarto. Abre a loja.
Ela caminha, observa o sol, forte. Sente-o no estomâgo, na cabeça, na boca. Sente-se tonta. Continua a caminhar, chega à loja. Está aberta. Entra, não o vê. Espera. Ele aparece, ela sorri. É beijada. Ela pede a roupa. Ele diz que não dá. Ela sorri, beija-o. Combinam qualquer coisa e ela avança para a praia.
Ele atende três idosas, dá-lhes informações sobre fatos-de-banho vermelhos, elas estão atentas. Ele vai à arrecadação. Quando volta, encontra-a. Ela espera, com umas calças vermelhas e um biquini verde. Ele sorri. Beija-a. Ouve-a pedir a roupa. Diz que não pode, precisa dela, mais algum tempo. Vê-a sorrir e beija-a. Ela vai embora.
Ela chega à praia, as mesmas caras, as mesmas pessoas. Sente-se triste. Vai até ao mar, mergulha. Lava os restos de maquilhagem, de suor, do cheiro dele. Volta para a toalha, deita-se, pensa na noite passada. Começa a ser questionada sobre os arranhões, mente, sorri. Tem fome, vai para casa.
Ele não quer que ela vá, quer outra noite como a de ontem. Lamenta. Vê-a afastar-se. Continua a trabalhar. Começa a ter fome, vai almoçar. Volta para a loja e trabalha.
Ela chega a casa, sente-se cansada. Almoça e deita-se, acaba por adormecer. Sonha, sonha com alguma coisa. Acorda, já é tarde, ele ainda não disse nada. Caminha pela casa, sente o estomâgo dorido, sente a cabeça cansada e latejante. Pega na mala e saí.
Ele não vê hora para acabar o trabalho, quer ligar-lhe. Espera pelo amigo, está quase.
Ela vai a todos os cafés, quer um Redbull. Não há. Encontra um café que tem. Compra, caminha até à loja e bebe. Vê-o, fala com o amigo. Sorri. Ele olha para ela e sorri-lhe.
Chegou, ele não está sozinho. Agora pode sair com ela. Fala com ele, conta-lhe alguns pormenores da noite passada, eles riem alto, ambos. Ele vê-a chegar, sorri. Fala-lhe, diz-lhe para irem à praia.
Ela chega, fala-lhes. É convidada a ir à praia, aceita. Eles vão. Sentam-se, ele bebe um café, ela observa. Acabam, vão até à praia.
Começam por se dirigir ao café, a ideia é dele. Ele bebe, ela não. Ele fala, ela ouve. Vão até à praia.
Ela tem calor, corre para a água, despe as calças, mergulha, refresca-se, suspira. Corre para perto dele, que se encontra na areia, deitado. Deita-se ao seu lado. Ele olha-a. Ela sorri. Fecha os olhos. Encosta-se a ele. Não falam durante algum tempo. Deliram, imaginam e inventam coisas que sabem que nunca farão. Ela gosta tanto. Não consegue abrir os olhos. Ele abraça-a, ela sente-se confortável.
Ele está bem, ela tem calor. Ele não quer ir á agua, ela vai. Ele fica a observá-la. A sua sensualidade, no corpo, nas mãos, na cara. Quer que ela se deite. Sente-a molhada, beija-a. Ela fecha os olhos, ele senta-a encostar-se. Não falam. Ele parece gostar. Sente-a apertar. Aperta-a também.
Ela abre os olhos, vê os dele, tão perto. Sorri, beija-o. Sente as mãos dele pelo corpo, ela gosta. Fecha os olhos novamente encosta-se a ele. Gosta quando ele fica atrás dela, aquece-lhe o corpo. Fá-la sentir segura.
Ele olha para ela, ela acaba por fazer o mesmo. Ele vê os seus olhos, tão verdes, tão grandes, tão enigmáticos. Tentam dizer tantas coisas ao mesmo tempo. Sente os lábios dela. Toca-lhe no corpo, com as pontas dos dedos. Sente o relevo do peito, a barriga, o umbigo, sente as pernas, o pescoço macio. Ela fecha os olhos, parece gostar. Mexe-se, vira-se de costas e encaixa-se nele. Ele deixa, e aperta-a.
Ela pergunta se pode escrever sobre isto.
Ele olha-a com ternura, diz que sim. Diz que também irá escrever.
Retirado de O Ano de 2000 (11 de Maio de 2000)
gostei do blog! especialmente deste texto. está simples, mas muito bom. adorei as descrições.
ResponderEliminarE vi uma letra dos joy division num dos textos, que é tipo das minhas bandas preferidas of all time! bom gosto, portanto x)