You have to ask yourself what brought the person to this point

sábado, 5 de outubro de 2013

na boca de um ser insaciável

-Eu sei. – diz. – Gostarias de mim se não fosse bonita?
-Não sei.
-Não sabes?
-Não.
-Porquê?
-Não sei até que ponto isso manteria a pessoa que és, com as experiências que já tiveste, não sei até que ponto isso não te tornaria numa pessoa totalmente distinta.
-Acho que te iludes em relação à beleza.
-Adoro a coragem que tens ao dizer uma coisa dessas!
-Adoro o teu lado sombrio e periclitante!
-Porque é que continuas a vir até aqui?
-Porque me sinto confortável. Não exiges que eu seja assim tão boa.
Joan acende um cigarro.
-És uma rapariga boa mas que gosta que a achem má.
-Preciso só de me perder e deparar-me noutro sítio. Compreendes esse tipo de amnésia?
-Chego lá.
-Como agora.
-Como agora?
-Vou-me deixar ir nesta pessoa que te ama.
-Não devias fazer isso.
-Não devia fazer muita coisa. – Crystal levanta-se da cama e começa a vestir-se. – Nem tu. Que estou a fazer aqui hoje?
-Não era o que querias?
-Não assim, Joan.
-É o máximo que te consigo dar. Não tenho mais nada.
-Privas-te de ter seja mais o que for.
-És insaciável.
-Ora, quem não é?
Crystal faz o vestido azul subir-lhe pelas pernas e enquanto abotoa os botões sente os dois olhos castanhos fixá-la tristemente.
-Tu és um prazer inconfessável.
-Eu sei.
-Nunca vai mudar?
-Não sei, querido. – Crystal senta-se na cama e beija-lhe os olhos – Será que vai? Não é assim tão difícil confessares só que tu és um medroso, é esse o teu bloqueio, tens receio de te arrepender. Somos seres muito ambíguos eu sei e claro que é excitante. É muito excitante mas a ti a adrenalina dá-te medo. És um conformista.
-Quero ir visitar-te à tua casa.
-Nós já temos uma casa, vemo-nos nessa.
-Será?
-Não, pessoas como nós nunca sabem onde é a casa. És assim tão infeliz aqui?
-Tem dias.
-Responde.
-Não.
-Bem me parecia. Ou então morres de desgosto mas és demasiado conformista.
Crystal levanta-se e começa a arrastar-se em direção à porta.
-Tu vives com demasiada epinefrina. – grita-lhe ele.

            -Estou faminta pela vida.

O Pijama da Gata