You have to ask yourself what brought the person to this point

terça-feira, 13 de novembro de 2012

I lied. undo me in a whisper


-O que é que vieste buscar? – pergunta-me o Led, denotando uma ausência de interesse pela minha presença improvável. Observo-o com os dois olhos ansiosos e predadores, a minha boca sente um gosto seco e intragável, toda a minha placidez é ansiedade. – Certamente não vieste jogar poker.
Focalizando a pressão na ponta dos dedos pintados, levo-nos até à cozinha do porão ilícito e começo a devorá-lo lentamente com os dentes e a língua. Subitamente um corpo rígido e erecto transforma-se numa massa gelatinosa entre os meus braços famintos e ouço-o arfar e vir-se, sucessivamente, alimentando-me de um amor facultativo e desmesurado. Um deslize lubrificado do pénis dentro de mim e as lágrimas começam a pingar-me o peito franzino. É o fim da festa, Figgy. O fim de tudo. Aprisiono entre as mãos erguidas o membro que, em sentido, se impõe revelando as suas formas tão perfeitas e trabalhadas quanto as da face ornada e manuseio-o até ele esguichar em todas as direcções e em alternantes intensidades. O Led solta este gemido altivo e tremendamente voluptuoso para me cair para o colo qual criança cansada implorando por afagos e carícias. Beijo-lhe a tez e observo-o enrolado em volta do meu peito reduzido, observando-me com olhos estouvados.
-Eu sabia que faríamos amor. – diz ele, numa peripécia calculável. Eventualmente tudo se desmorona. Sim, as arquitecturas estão fracamente construídas, necessitamos de melhores empreendedores. Procuro no bolso o saco de pó que habitualmente lá se encontra e cheiro as linhas uma a uma com calamidade. Ergo-me de joelhos e beijo-lhe o rósea dos lábios ainda ofegantes e já vermelhos da auto-pressão provocada pelos dentes.
-Eu não faço amor. – cuspo, enquanto me afasto agitando as nádegas mas sem orgulho e tirania. Compreendo enquanto me afasto do edifício que as lágrimas já haviam secado há muito tempo e que tudo não passa de identificar os problemas e de saber como os censurar e não complexificar. É tudo muito mais simples quando não nos preocupamos. Mais tolerável.

Suntory Yamazaki Single Malt Whiskey Conto 7, História de uma Garrafa de Whisky

sábado, 3 de novembro de 2012

blowing kisses


Caminho pelas ruas em grupo porque arrastamo-nos sempre numa sociedade selectiva e elitista de membros poderosamente influenciadores. O Figgy acelera o passo pesado junto ao meu caminhar solene e cansado e entrelaça os dedos cuspidos nos meus, partilhando essa saliva suja pelas nossas epidermes agora contagiadas. Observo-o enquanto me sinto arrastada pela demência e autoridade dos nossos passos. Possui um caminhar demasiado tentador. Movimenta-se num arrastar tão suave e dominador, é um tirano. Fuma um cigarro que ainda agora acendeu e cuja ponta queima na noite sombria para depois me sorrir docilmente enquanto pisca um olho castanho e me sopra:
-Adoro-te. – mas as palavras esvanecem-se no ar. Aperto a mão molhada contra a dele e cerro os dentes dentro da boca com tamanha força que as gengivas endurecem e as paredes bocais se rasgam em pequenas fendas inofensivas mas desconfortáveis. Não fazes ideia, sussurro.
-O quê, Alicia?
-Nada, companheiro. – diz o Led que domina connosco, na nossa multidão. – Ela não disse nada. Pois não, Alicia?
-Não. Não disse nada. – sussurro e entrelaço mais os dedos húmidos que se difundem.
A humidade que se despega do alcatrão molhado e que nos embate na cara obriga-me a inspirar profundamente esse cheiro orvalhado que depois diverge e se altera para uma brisa ilícita de substâncias que são inspiradas e cheiradas na nossa aura de diversão.
-Ela é a minha miúda. – diz o Figgy, num tom imperativo e intimidador – É a minha miúda – repete – não a tua. Eu sei quando é que ela diz alguma coisa. – acelera o passo – tu não. – e volta-se subitamente para mim, apertando-me a mão com ternura e auspicia - Diz-me, querida, o que foi que disseste?
-Eu disse – engulo em seco e mantenho um olhar animal – que também te amo.
-Eu sei, babe. – diz, apertando-me a mão e a nádega com a que segura o cigarro – nós adoramo-nos para caraças. Eu adoro-te para caraças. És minha.
Observo o movimentar seco dos seus lábios e estremeço. O amor é um lugar estranho. Não estou certa de saber o que significa. Mas sim, nós adoramo-nos para caraças. O Led silencia-se e observa-me nesta posição dominada. Olho-o com curiosidade. Ele afasta-se mas mantêm-se ao meu lado, na mesma posição. Sopra-me um beijo.


Conto 7: Suntory Yamazaki Single Malt Whisky, História de uma Garrafa de Whisky