Caminho pelas
ruas em grupo porque arrastamo-nos sempre numa sociedade selectiva e elitista
de membros poderosamente influenciadores. O Figgy acelera o passo pesado junto
ao meu caminhar solene e cansado e entrelaça os dedos cuspidos nos meus,
partilhando essa saliva suja pelas nossas epidermes agora contagiadas.
Observo-o enquanto me sinto arrastada pela demência e autoridade dos nossos
passos. Possui um caminhar demasiado tentador. Movimenta-se num arrastar tão
suave e dominador, é um tirano. Fuma um cigarro que ainda agora acendeu e cuja
ponta queima na noite sombria para depois me sorrir docilmente enquanto pisca
um olho castanho e me sopra:
-Adoro-te. –
mas as palavras esvanecem-se no ar. Aperto a mão molhada contra a dele e cerro
os dentes dentro da boca com tamanha força que as gengivas endurecem e as
paredes bocais se rasgam em pequenas fendas inofensivas mas desconfortáveis.
Não fazes ideia, sussurro.
-O quê,
Alicia?
-Nada,
companheiro. – diz o Led que domina connosco, na nossa multidão. – Ela não
disse nada. Pois não, Alicia?
-Não. Não
disse nada. – sussurro e entrelaço mais os dedos húmidos que se difundem.
A humidade
que se despega do alcatrão molhado e que nos embate na cara obriga-me a
inspirar profundamente esse cheiro orvalhado que depois diverge e se altera
para uma brisa ilícita de substâncias que são inspiradas e cheiradas na nossa
aura de diversão.
-Ela é a
minha miúda. – diz o Figgy, num tom imperativo e intimidador – É a minha miúda
– repete – não a tua. Eu sei quando é que ela diz alguma coisa. – acelera o
passo – tu não. – e volta-se subitamente para mim, apertando-me a mão com
ternura e auspicia - Diz-me, querida, o que foi que disseste?
-Eu disse –
engulo em seco e mantenho um olhar animal – que também te amo.
-Eu sei,
babe. – diz, apertando-me a mão e a nádega com a que segura o cigarro – nós
adoramo-nos para caraças. Eu adoro-te para caraças. És minha.
Observo o
movimentar seco dos seus lábios e estremeço. O amor é um lugar estranho. Não
estou certa de saber o que significa. Mas sim, nós adoramo-nos para caraças. O
Led silencia-se e observa-me nesta posição dominada. Olho-o com curiosidade.
Ele afasta-se mas mantêm-se ao meu lado, na mesma posição. Sopra-me um beijo.
Conto 7: Suntory Yamazaki Single Malt Whisky, História de uma Garrafa de Whisky
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