E não nos dizem todas as
doutrinas que possuímos a incumbência de sermos ambiciosos? Eu sou tão, tão,
tão ambiciosa. Certa vez tentei contrariar a irreversibilidade da vida. Não
sabia eu mas fundamentalmente estava a contrariar o próprio propósito da
palavra – irreversibilidade. É o meu outro problema com prefixos “i”. Sempre
que se avistam os “i’s” é porque qualquer tentativa de infracção é, novamente,
i-mpossivel. Mas como observas a minha ambição é desmesurada, incrível,
demente. Tento fazer tantas mais coisas com este banal e mundano corpo que todo
o universo cai em cima de mim, pela impossibilidade de tais acções. O mundo,
afinal de contas, é meramente proporcional, eu sou aquela que está totalmente
desfeada. As totalidades são formadas através de fragmentos mas os que me
constituem são desconexos, desalinhados.
Recordo-me de ti em momentos de impossível repercussão. Sinto a tua
falta em momentos de momentânea nostalgia. É tudo tão errado. Descontrole. O
ser humano a falhar anuindo à tentação. Isolei-me do mundo, reservei as parcelas
que não deslizaram e fugidias me escaparam dos dedos dissipando-se no mundo em
meu redor. Estou disposta a enclaustrá-las dentro de mim. A minha terapeuta diz
que é uma loucura, que não sou ambiciosa quando o tenciono fazer mas que sou
ridícula. Puramente ridícula. Que as pessoas se perdem e evoluem – naquele
sentido quimérico que eu dou à palavra, sabes? Racionalização: que a evolução é
um processo de racionalização e de alteração, que repara ou te arrasta até um total
retrocesso às origens simplórias da nossa existência. Tu tinhas o terrível
hábito de ser bastante mais racional que eu. Eras escrupuloso e sistemático. E
toda a minha presença residia neste plano grandioso de toda uma existência
visivelmente proporcional, fui exacta?conto 4: Ballantines, História de uma Garrafa de Whisky