Seguiram-se três
dias e só agora acabei de tomar o meu primeiro duche. O cabelo molhado espalha água
pelas costas, que húmidas e escorregadias, vão permanecer assim até o roupão
branco de algodão as secar. O Steve surge pouco tempo depois de mim e ainda
molhado seca-se a uma toalha azul escura e procura a roupa lavada que o
motorista lhe havia trazido no dia anterior após ter afirmado que se iria
embora definitivamente, e na altura haviam já passado 2 dias. Agora foram três e
ele ainda não partiu e a casa parece mais cheia e preenchida. Enrolo um charro
e o seu olhar atento segue-me e o ouço-o suspirar e prosseguir.
-Vou-me embora Leigh. Se fumo mais
um desses já sei que só volto a sair e a vestir-me amanhã pela mesma hora.
Sorrio sem despegar o olhar da
mortalha e da erva.
-Não. Estou a falar a sério. –
diz-me. – Já sei como isto vai acabar. Vou ter mesmo de ir. Vem despedir-te de
mim.
-Não precisamos de nos despedir. –
digo, passeando enquanto enrolo a mortalha em volta da erva – eu sei que vais
voltar.
-Não preciso voltar.
-Não precisas mas vais.
Colo as duas faces da mortalha e
finalizando o charro acendo-o. Ele dá dois passos na minha direcção mas
arrepende-se e recua.
-De certeza que não queres? – sugiro,
acenando o charro seguro entre os dedos. Ele suspira e olha de relance para a
porta. Estudo a sua indumentária constituída sobretudo por peças Vitton.
-Não, Leigh. Preciso mesmo de ir.
Compreendo e aceno, dou uma passa, e
fixo o olhar no seu. Preparo-me para que ele saia e tento imortalizar esta última
ideia da sua silhueta junto à ombreira da porta, com o casaco ao ombro e o cabelo
naturalmente despenteado. Torna-se desnecessário fazê-lo porque ele atira o
sobretudo para o sofá e caminha na minha direcção com um sorriso convicto e com
os dedos estendidos na direcção do cigarro de erva.
-Que se lixe.
História de uma garrafa de whisky, conto 3: Jameson Irish Whisky
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