You have to ask yourself what brought the person to this point

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

tinha pedido sem gelo


-Criar aproxima as pessoas. Concebemos uma viagem que nunca aconteceu mas já voltámos e estamos novamente no quarto onde o único movimento é realizado pela ventoinha. Ele enche um copo de whisky e saboreia-o.
-Não é para arrancar, é para celebrar o arranque. Ela observa-me, observamo-nos em silêncio.
-Encho também eu um copo e vejo o líquido verter e cintilar. Brilha ao lado de dois cubos de gelo transparentes que se diluem. Tinha pedido sem gelo. Devo bebê-lo rápido para que a sua essência não se dissipe. A atmosfera do quarto parece mais leve mas ainda condensada. Não é dos sítios, nem do ar, é das pessoas. É só de nós os dois. Dou um gole no Laphroaig e o som implacável dos lábios a sorverem a bebida anexa-se ao da língua a envolvê-lo e da garganta a fazê-lo deslizar, ruidosamente, até ao estômago. É o único som que aniquila os outros, o da ausência de palavras, o da solidão de um ser a beber sozinho na presença de outro que também bebe mas não faz som. Era como se não existisse mais nada.  




Conto 5: Laphroaig, História de uma Garrafa de Whisky

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

U turn


Ele encostou o braço no arco da parede da sua sala e a palidez daquela pele de onde o bronzeado se ia cada vez mais extinguido contrastava com o conjunto de recortes que decoravam a parede. Ela mirava-o pela altura do sofá e a primeira coisa que via se olhasse em frente eram os joelhos e as coxas musculadas. Tinha um corpo muito trabalhado, robusto, com um tronco proporcional ao resto do corpo, os braços e os ombros largos, as mãos grandes, de homem, o abdómen definido. 
Com a mão que tinha livre segurava um cigarro que levava à boca e exalava o fumo na sua direcção. A sala era preenchida pelo vapor quente das suas respirações. Conseguia observar os dedos dos pés descalços e as unhas pintadas de azul negro, de pequeno porte, pés delicados. Os seios rolavam-lhe para os lados e o ventre era liso e aclamativo.
-Não podemos fazer isto tantas vezes, loirinha. Vou-me apegar a ti e tu não precisas de um rapaz como eu atrás de ti.
Ela sorriu e limpou um bocadinho da saliva dele que lhe molhava o mamilo resfriado. Não era bem um sorriso que queria expressar. Sentia a efemeridade daquele momento a passar-lhe ao lado.
-Deixa-me fumar contigo.
Ele desapoiou-se da parede e caminhou na direcção dela. Estendeu-lhe o cigarro aos lábios e constatou a beleza de uma rapariga a fechar os olhos e a inspirar do fumo de um cigarro e depois a exalá-lo. Levantou-lhe a cabeça com a mão, de forma a sentar-se e a pô-la no seu colo. Os olhos cinzentos pendiam ao lado do seu pénis flácido e tudo se encaixava num panorama. Deu-lhe o cigarro para as mãos e afagou-lhe as maçãs do rosto repetidamente, conseguia projectar-se a fazê-lo mais frequentemente, porém sabia que não iriam nunca passar daquilo.

 Conto 11 - História de uma Garrafa de Whisky