You have to ask yourself what brought the person to this point

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ela levita, quase fada.



Abro-lhe a porta e espero que ela entre. O cabelo é alourado, de um tom quase esbranquiçado, místico; os olhos são negros e têm um brilho distante, fora deste mundo. Digo-lhe que não abriria a porta a ninguém àquelas horas, mas que o cheiro dela me levara a fazê-lo. Ela não sorri e entra. Segura nas mãos um livro que está repleto de anotações feitas a lápis, juntamente com as frases sublinhadas das quais essas anotações resultam. Diz-me que ouvira falar de mim e do meu quarto e que o quis ver de perto. Eu peço-lhe que se dispa e ela fá-lo. O seu corpo é magro, mas não excessivamente, a pele é de um tom muito claro, desbotado, mas mundano. Quando me aproximo e a beijo, ela diz-me que os meus lábios sabem bem, que o sabor do whisky é evidente. Depois volta a vestir-se e arrasta-se até à varanda. Diz-me que a noite é diáfana vista dali e eu pergunto-lhe o que quer dizer com aquilo. Diz-me que não tem a certeza, que o meu quarto se assemelha a um sonho. E depois ficamos a olhar para a lua, durante horas e horas, até ela desaparecer, sem proferir uma única palavra.




História de uma Garrafa de Whisky, Conto 1: Jack Daniels

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