Recentemente vi-me sozinho num quarto, num espaço fechado que não havia penetrado antes. O cheiro que nele perdurava, as tonalidades que nele eram pintadas, a forma irregular dos espaços. Deixei-me ficar e não precisei de cocaína nessa noite. A harmonia por si só estava dispersa no ar. De manhã cedo, ao romper do sol olhei em volta e apercebi-me que se tratava do meu quarto impecavelmente limpo e arrumado. A minha mãe chegara de viagem e mandara limpar toda a casa, inclusive o meu quarto. Não suportei a luz do sol e o cheiro novo e familiar que voltava a entrar e, portanto, fiz duas linhas grossas e cheirei-as. O cheiro parecia não se extinguir. Abri uma das reservas de Jim Bean e bebi um quarto da garrafa de uma vez. Liguei o estéreo no máximo e pus a tocar a Heroin dos Velvet Underground. O quarto pareceu incrivelmente brilhante e lúcido. Os cheiros, as formas habituais evaporaram-se pela porta encostada. Pousei a nuca na almofada e deixei os olhos fecharem-se progressivamente. O whisky e a cocaína fluíam e espalhavam-se dentro de mim, tão docemente, tão dominantemente. E adormeci, naquilo que deixou de me parecer o meu quarto. E dormi tão bem, Leigh, dormi tão bem.
Por Simon para Leigh em Empty Divisions
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