era
à noite, já tardia, quando Megan adormecia depois de fazerem amor exasperadas que
Amber fugia do ninho e se esquivava para um local secreto, profundo e sombrio,
entre a alma e o desejo, onde se entregava a si própria, aquela que sentia outras
coisas e que não tinha a capacidade de fingir. Compreendia que se enganava, em
parte a si mesma, mas outro seu lado não estava enganado e gostava. Gostava de Megan e do que representava estarem juntas e amarem-se uma à outra daquela
forma, fazerem amor daquela forma, andarem de Alfa, bronzearem as pernas e
ouvirem jazz daquela forma. O mundo parava e não se lembrava tanto, só que por
vezes, era inevitável, e a rotina fazia-a recordar ainda mais. Era uma parte de
si que estava enterrada num sítio ilegítimo, fazia-a vacilar e era só nesses
momentos, quando a amante adormecia, que ela conseguia rastejar para fora da
cama, na sua independência e procurava o espaço que era seu, o desejo que a
consumia, a saudade que já não era mera recordação, a folha do papel onde
escrevia, onde queria escrever, a cassete de jazz que era só sua e esquecia.
Esquecia quem era, onde estava, porque ali estava, esquecia a nova Amber, a que
queria ficar e queria amar a sua gémea e voltava a querê-lo a ele. Queria-o a
ele e não desejava mais nada.
-Consegues
ver-nos? – perguntou-lhe Megan.
-Sim.
E tu? Consegues ver-me?
-Já
só nos vejo a nós. Somos a senhora mais elegante do mundo, sabias?
Amber
riu-se.
-Sim.
Eu sei.
Megan
beijou-lhe os olhos e depois a boca e murmurou:
-Esta
casa nunca mais vai ser a mesma coisa, nunca mais vou conseguir deixar de ouvir
esta música e cheirar o teu corpo, a tua pele, beijar-te os olhos.
-Não
me vou embora.
-Não
estou a dizer que vais. Estou a fazer uma coisa diferente, estou a
imortalizar-nos. Isto já não vai sair da minha casa nunca mais. – beijou-a novamente – amo-te.
Conto 10: Glenmorangie, História de uma Garrafa de Whisky
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