O
quarto era tomado por uma escuridão pálida e a luz esbranquiçada que provinha
do exterior tornava-se mais fosca e, subitamente, a penumbra transforma-se em
imensidão azul. Só assim se viam os dois corpos traçados por riscas de cores
variadas, muito despreocupadamente pintadas, as palmas das mãos carimbadas pelo
corpo em tinta invisível, o rasto que perdurava, a fragrância, a mais voluptuosa,
o sentido que não desaparecia, nos corpos dos dois seres, pelas paredes, o
cheiro que impregnava e o brilho riscado e mesclado de um universo e de uma
percepção que não seria possível de entender na
imensidão do negrume da escuridão. Pelo tecto, sorria, tentadora, o sinal pouco
implícito de uma seta que atravessava o estuque pérola da parede em direcção
aos corpos sem que estes se apercebessem, descia subtilmente e ia-se instalar
sobre a pele, junto aos sexos, a provocar uma pressão desmesurada, a potenciar
um desejo cada vez mais progressivo. Amber acordava e agarrava os seios com as
mãos, sentia um calor inevitável que se ia intensificando e subindo para se
transformar num aperto na garganta, profundo, mas existente, que não a deixava
respirar, que lhe aquecia o corpo e a palma das mãos e quando dava por si,
esfregava-se no corpo de Megan, incansavelmente, e esta acordava e saciava-a,
com amor e ternura, mas sem animalidade feminina. Uma loira sobre a outra, os
cabelos da cor do trigo entrelaçados pela fricção dos corpos, os olhos
dementes, a fundirem-se, como se a união dos sexos e do suor que pingava um
sobre o outro fosse transcendental. Dois demônios a respirarem o mesmo ar, a
beberem da mesma saliva e a seta lá no meio, a fazer coacção para que aquilo
não parasse e não parava.
-Esta luz está dentro do quarto, a ver de dentro para fora. Consegues vê-la? Só de dentro para fora. Um sitiozinho escondido. - proferiu Megan e Amber sorriu e levantou-se.
Conto 10: Glenmorangie, História de uma Garrafa de Whisky
Lindo
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