Acto 13
A cena abre com uma máquina de filmar antiga, daquelas que são carregadas ao ombro. Quem segura essa máquina é a realizadora, filma Mia. Mia está sentada no chão, com os joelhos ao nível do peito e fuma um cigarro. O fumo sai e espalha-se em círculos no quarto. De um momento para o outro há uma inversão e quem filma é Mia. Filma a realizadora que está deitada a um canto do quarto, completamente nua, com o braço esticado acima da cabeça. Parece morta. Parece incrivelmente bonita. Desta vez o oposto sucede. A realizadora é filmada. A que sabe isso?
A cena fecha. Fica tudo negro.
Volta a abrir com a festa da sala. Estão todos a falar uns com os outros. Há fumo e bebidas. Há mulheres com vestidos coloridos e curtos a dançar. Por cima da cabeça de todas as pessoas formam-se bolhas de ar, círculos perfeitos e de diferentes dimensões. É difícil defini-los. Esses círculos misturam-se uns com os outros e fundem-se, como pedaços de gelatina flutuantes.
Mia: Os círculos de fumo são como os círculos da vida. São círculos místicos. São algo mais do que aparentam ser. São uma dimensão, uma ideia, um universo. Emergem de um cigarro para o ar, espalhando-se em esbatidos fios de fumo. Advêm de um cigarro para o outro, para o ar. Os meus dedos atravessam-nos, fundem-nos, mergulham neles. Esses círculos de fumo, círculos místicos que pairam no ar como leves partículas de pó, como plaquetas de oxigénio que se fundem invisivelmente
Por Ann Wallace sobre Mia em Empty Divisions
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