Sinto tremores e suores pelo corpo, o meu robe de veludo azul está preso a mim, entranhado na carne, através do suor. Vou até ao bar e sirvo-me com um scotch puro que me queima os lábios. No entanto o gosto do whisky é ténue quando comparado ao sabor doce da coca e à moca forte da heroína. E eu sinto a falta delas. Mais suspiros, mais delírios, mais suores. Limpo a testa à manga do robe e sinto-a derreter, a carne empapada a escorrer-me pelos cantos da cara, deslizando junto às orelhas e caindo-me no peito, com uma força vagarosa e abalizada. Os restos de pele pendem-me na testa, a caírem e a taparem-me os olhos, que por sua vez são ferozmente ressequidos pelas luzes fortes projectadas no meu jardim perdido. SENHORES E SENHORAS, ouço-me gritar, como se estivesse fora do meu corpo, hoje o jardim perdido do senhor Loy é exclusivamente vosso. Aplausos, aplausos. E o pano de veludo negro cai. O meu jardim fica envolto numa idealização escura, numa imagem passada. Volto ao bar e sirvo outro scotch, desta vez faço um duplo. Bebo-o de um trago. Os meus lábios rasgam, abrindo-se neles pequenas e dolorosas fendas. No entanto continua sem se assemelhar à moca da heroína. Evito o inevitável. Pego no comando e ligo o projector da sala, imediatamente, esta fica reflectida pelas imagens dos meus filmes, por broches, por quecas, por enrabanços, por esporra, por conas e nádegas. Todas sobrepostas umas às outras.
Por Loy em As duas invenções do Pornógrafo Loy
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