You have to ask yourself what brought the person to this point

sábado, 3 de maio de 2014

Contaminação

Movimentam-se lá fora, arrastando os membros em passadas consumidas e cansadas. 45ºC. Escorre e pinga um suor corrupto dos corpo que indica a proporção de uma calamidade avassaladora. O suor goteja em porções desmesuradas e densas pela pele sebenta e danificada mas rapidamente se desenvolve e rebola no sentido inverso e lenta vai regressar às suas origens infecciosas. O aglomerado de gotículas que desliza e blinda sobre a textura cintilante do corpo pesado que se movimenta em calor unificado e prepotente. Convulsiona-se num reboliço de psicadelismo alucinatório que progride e se complexifica e vai eclodir numa dança em batuque dos gérmens que deslizam pelos membros fétidos até aos lençóis alagados onde se complementam e anexam evoluindo em espécies tanto mais complexificadas. Persiste um odor hendioso no ar que o compartimento de paredes sólidas arduamente sustém e postumamente emerge pelas brechas das portas e frinchas das janelas onde depois se cruza com uma atmosfera limpida e candida que se balança no espaço vazio. Contaminam-se. Os corpos sãos e imaculados que rastejam desamparados numa sociedade de oportunidades ultrapassadas e condicionantes, programadas num jogo de passagens assinaladas em tempos e espaços decompostos pela noção irreal de conjunto, de ideia, de causa, de vida. Não há noção sem igual.
A aniquilação da temperatura amena é substituída pelo calor avassalador e embaçante de 50ºC que sobem a pico por uma ideia impalpável de sentido crescente cuja direcção sobe de forma estável e constante e, claro, numa direção exclusivamente crescente. Estrebuchavam nessa formação húmida de fluídos transpirados os germes originários da contaminação suprema. Fulmina um desagrado borbulhante  que se alastra pelas zonas inalcançáveis do corpo e dos centímetros e metros que percorrem numa velocidade extasiante, deformando o espaço que vão deixando para trás, quais espermatozóides irradiados em direcção ao ovário receptivo, prestes a fecundar.

O Quarto do Óscar, 2011





















1 comentário:

  1. Sobre esta foto: http://yourshot.nationalgeographic.com/photos/3538224/#close-modal

    Os nossos restos continuavam plantados no chão. O relógio dela, a minha roupa, restos de tinta. O corpo dela continuava acelerado na cama, eu continuava sem conseguir dormir. Olhava-a enquanto fumava mais um cigarro e ia molhando os lábios no whisky. Aos meus olhos o corpo dela era fabuloso. A forma como o pescoço dela se revelava no cabelo curto, o jeito com que os dedos dela se alongavam, as curvas, agora salpicadas de tinta. As minhas mãos marcadas nas nádegas dela.
    Durante horas os nossos corpos foram uma tempestade. A velocidade com que a minha boca tentava absorver cada gotícula de whisky que lhe percorria o corpo deixava-me louco a cada gole. Antes de entrar em casa as cuecas dela foram metidas no meu bolso. Eu senti-lhe o sabor antes mesmo de entrar quando na rua quase deserta me ajoelhei perante ela e beijei no meio das pernas debaixo de uma saia demasiado curto para que eu evitasse. Ela puxou-me para dentro, mordeu-me o pescoço, o ombro, e os lábios. Eu encontrei os velhos guaches dos quadros que ela pintava. pintei-lhe de vermelho um ombro, e ela roubou-me a brancura da minha pele ao mascarrar-me com preto todo o braço. Ela tirou a roupa, atirou-a contra um monte de roupa suja que estava na casa de banho. Ficou de ténis na minha frente e eu olhava-lhe os seios. Os mais bonitos seios que eu tinha visto. Sujei as mãos num guache branco e segurei-a pelas nádegas. As pernas dela enrolaram-se em mim, apertaram-me o corpo, as minhas mãos procuraram cada curva dela, e eu sentia a tinta marcar-lhe o corpo.
    -Queres experimentar uma coisa nova?
    -O que?
    Os corpos começaram-se a misturar. Entre beijos, apalpadelas e apertões. Eu sentia-me dentro dela e ela gemia sem que o corpo parasse de exigir mais. Ela gritava que ia vir-se, o meu braço alcançou um lenço e dei-lhe para que ela cheirasse sem que nunca parasse de lhe enfiar, cheirei de seguida e trinquei-lhe os mamilos perfeitos, o meu corpo acelerou, senti o dela acelerar.
    Num gemido profundo o corpo dela parecia um motor, o meu igual. Ela respirava profundamente.
    -O que foi isto?
    -É poppers.
    E adormeceu de imediato. Sem que eu conseguisse dizer-lhe que tinha sido bom.

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