James levantou-se e foi
buscar o vinil de Serge Gainsbourg, Histoire
de Melody Nelson e colocou-o em
reprodução na sala. A atmosfera mudou consideravelmente, ela tinha razão, a
descontracção de todo o seu ser sentiu-se inclusive na postura física que adotava.
-Isto incendeia-me o
peito. – disse ela enquanto pousava o copo.
-O whisky?
-Sabe a saliva, mas
arde.
-Não vamos por aí,
algumas salivas também ardem.
-Sim, naturalmente.
-Eu prometi que te ia
descrever e estás a distrair-me propositadamente. Ou então é a música que me
distrai a mim.
-Olha, eu não tenho
nenhuma objeção que me leias mais tarde. Afinal de contas era pouco tempo para
teres uma leitura fiável de mim.
James inclinou-se mais
para o lado onde Jane estava sentada.
-Então que sugeres?
-Que me dês mais whisky
e queijo. Que me deixes fumar muitos cigarros.
-E depois?
-E depois quando eu
achar que já estou demasiado bebida, vou sentir-me dormente e muda e
logicamente irás levar-me a casa. Amanhã, eu procuro-te e jantamos.
-Isto é o início da
relação?
-É o mais perto disso.
-Que calorosa que te
estás a revelar.
-Não digas isso como se
não te tivesse prevenido.
-É verdade, fui
alertado.
-Foste mais que
alertado. Amanhã vai doer-te a cabeça a pensares nisto.
-Não pode ser assim tão
mau, não és demente.
-Cheira-me a café.
-Não te cheira a café.
Jane olhou para James e
riu-se.
-Gostavas que te
cheirasse a café?
-Talvez gostasse. Mas
do que gostava mesmo era de fazer café contigo.
James levantou-se e estendeu-lhe
uma mão, Jane agarrou-a e ele ajudou-a a levantar-se. Conduziu-a até à cozinha
e encheu o recipiente da máquina de café com água, ligou a máquina à
eletricidade e apoiou-se na bancada da cozinha a fixar Jane.
-Com todos estes anos
de experiência, já cheguei à conclusão que as taras por café são as piores.
Inércia, 2014
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