-A música escocesa de
noite alcoólica em melancolia é só o que reveste o quarto. Começo a pensar que
já tivemos muito longe disto, passou algum tempo e estamos juntos neste quarto.
O som torna tudo muito fácil. É quase como se embebesse aqueles scotches pela
sonoridade. Bêbeda na lua. Talvez também não seja assim tão difícil, talvez
também não seja assim tão difícil falar e de qualquer das formas talvez até
consiga tentar.
-O quarto está mais seguro agora. A
minha filha também o sente. Sorrio-lhe calorosamente e sabemos que não há
problema em falar. Observo-a enquanto ela se levanta e se senta no cadeirão a
meu lado.
-Nos seus olhos castanhos brilha o esforço em fazer com que eu fale.
Exponho-me mais, mas calmamente. Disse-lhe sobre os meus amantes, sobre como
nunca podemos ficar juntos, como nunca me apego verdadeiramente, sobre como sou
complicada e problemática, sobre como estou tão caída em mim que não sei sair.
Disse-lhe sobre o que passou, sobre ser pequena, sobre nunca ter sabido como
era ser pequena. Seria bom? Todos parecem ter apreciado. Nunca me senti muito
pequena.
-Deve ser triste.
-O quê?
-Ter a alma velha.
Conto 5: Laphroaig, História de uma garrafa de whisky
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