É tudo demasiado erótico para ti.
Para o fumo do teu cigarro e para as gotas do teu whisky. <<É tudo
demasiado erótico para todas as pessoas. É tudo demasiado. Entende a
dimensão de demasiado?>> Não entendo a dimensão de nada. As coisas estão
“desimensificadas”. Eu encontro-me desimensificada. Perdida. Embebida em whisky
e cigarros. Adormecida num estado de despertar constante. Inexistente numa existência
imensurável. Só que, ironicamente, isolada. Ausente de todos os passos
grandiosos que tu dás, de todas as instâncias sacras que tu retrais. De todas
as ocultações que tu, com tirania, exploras. Sou a tua última indagação com
êxito. O desenlace será previsível a partir de agora. Já conheço todos os
finais dos teus começos, todos os ataques dos teus combates. Conheço o sítio
onde vives sem nunca ter, porém, chegado lá. Broto novamente e cesso este parágrafo,
com o resto da bebida que se balança no copo e acendo um cigarro. O que se
iniciou como um projecto de libertação transformou-se numa eloquência colossal
e eu sei que não evito brindar demasiado. Não gosto de partilhar essas coisas.
Nem tu. Sabes que estou correcta. Lamento não ser o teu papel.
Conto 4: Ballantines, História de uma Garrafa de Whisky
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