-És uma rapariga estranha, sabias? –
Fita-me incrédulo, com os olhos cinzentos brilhantes e altivos. Os boxers
brancos estão deixados no chão e o pénis flácido bate-lhe nas virilhas
esteticamente embelezado. – Mas não me importo. Queres sair, não queres? Então
sai, por favor. Sai. Estás completamente à vontade para o fazeres.
O meu olhar desmorona-se e deixo de
nutrir a mesma necessidade de fugir e de não voltar. Subitamente quero ficar e
dormir cá novamente, envolta nos seus braços, no calor de um corpo humano, enriquecida
com a falta da memória da noite passada, com a ausência de uma projecção de um
futuro, sem expectativas. Quero tudo excepto sair e é a única coisa que me
parece ser possível.
-Sai. – volta a dizer-me, já sem sequer
me fitar e cerro os punhos porque é necessário manter-me controlada. Fico assim,
indiferente, à porta do quarto, ainda com o papel envolto nos dedos e a
maçaneta da porta na outra mão. Controlo-me. Dirijo o olhar para a porta onde
as expectativas se projectam e saio, fechando-a atrás de mim. Só que quando
saio estas ficam lá dentro. Antes de descer os degraus para o rés-do-chão
encosto-me à porta de cócoras e choro. Levanto-me e sigo caminho enquanto
acendo um cigarro Malboro que fumo até encontrar o portão onde o James me
espera paciente e pronto.
-Bom dia, Miss Falloon. –
cumprimenta, ainda com o jornal entre as mãos e com um sorriso branco.
-Bom dia, James. Podemos, por favor,
ir embora o mais rapidamente possível?
-Claro, menina. Qual é o destino?
-Para casa, por favor.
Duas lágrimas descem-me até ao
queixo mas arduamente são perceptíveis graças aos óculos escuros.
- Está tudo bem, menina? –
pergunta-me num tom de voz suavemente alertado. Limpo as lágrimas mas novamente
outras duas escorrem. Fito a janela do quarto do Steve de onde sinto que me
observa, já com os boxers vestidos, o cabelo negro despenteado e os olhos
cinzentos muito brilhantes e sem expectativa. Olho para o espelho retrovisor
onde também o olhar de James me estuda.
-Ficará. – digo-lhe. Sem
expectativa.