You have to ask yourself what brought the person to this point

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

sobre coisas pequeninas, tipo detalhes...


A chuva pinga o vidro da janela e emite um som contínuo e húmido, a sonoridade de um líquido a verter sob uma superfície dura. Ela arrasta a meia do collant negro pela perna comprida, passa-lhe os dedos muito firmemente, possui uns dedos delicados e compridos, estreitos, as mãos de uma dançarina, seduz. Depois passa logicamente os dedos pela outra perna, a arrastar a meia daqueles collants negros pela pele vasta de um membro feminino e torneado. Entrevejo só a sua silhueta na penumbra do quarto, em oposição à claridade lunar que atravessa a janela e mergulha o quarto num misticismo sensual. Tem os cabelos avermelhados longos a caírem-lhe pelos ombros, mas num volume exagerado, que se afastam do corpo num vislumbre parado, em torno da face, de feições muito delicadas, bochechas cheias, um tipo redondo, com o nariz pequeno e delicado, os lábios cheios e sensuais, a transpirarem voluptuosidade. Tem uns olhos pequenos, de amêndoa, mas de uma profundidade esmagadora.
O cenário da sua presença fica-me esquecido ao canto do olho, enquanto a passo e lhe deito um olhar de esguia e sigo em passadas distantes de tudo para a porta da esquerda, a da casa de banho. Ela ainda me olha e sorri-me, as sobrancelhas adelgaçadas a emoldurarem um rosto que me é já demasiado familiar. Revela os dentes alinhados, brancos, perfeitos. “Já viste bem os dentes dele? Não? Oh! Repara! E eu que me preocupo tanto com os meus dentes…” sussurra entre o nevoeiro da noite, com um olhar engraçado. Ele tinha de facto uns dentes acabados.

História de uma Garrafa de Whisky, Conto 9 

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