You have to ask yourself what brought the person to this point

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hello Handsome

-És linda – digo-lhe, quando observo o olhar perpetuo com que observa o que se dissolve no meu estômago, quando me deixa espalhar o pó nas suas mamas e inalá-lo com uma virtude animal. E ela é de facto linda! Deus, é tão macia…Esfrego-me na sua pele deleitosa e acaricio-lhe os braços, os lábios, os olhos, os dois seios, as coxas, o abdómen e beijo-os. Tomo-as nas mãos e rendo-me às demonstrações do seu brio singular e da sua essência já tão rara. Seria tão insuficientemente ambiciosa se não a quisesse para mim. Algumas pessoas nunca compreenderão a dimensão de possuir tamanha facúndia entre as mãos, entre os lábios, entre-junto ao corpo. E foi nesse contacto que a senti retrair-se, num movimento brusco e tornar-se hirta, fitar-me e afastar-se, repentinamente incerta da dignidade daquilo que estávamos prestes a fazer. Puxo-a de encontro ao meu peito e intencionalmente faço com que sinta o pulsar contínuo do meu coração, agitado agora pela droga que me corre no sangue. Derramo propositadamente uma ou duas lágrimas que acabam por lhe escorrer para o peito com nostalgia e sinto-a observar-me desoladamente. E é… é linda. Linda enquanto a rolo em mim e lhe dispo a blusa e bloqueamos lentamente a porta da casa de banho com duas nádegas brancas e firmes, encostadas às molas largas, em movimentos circulares enquanto uma língua esguia e lânguida as completa, de outra direcção. Vejo-nos reflectidas no espelho inacabável que suspenso por cima dos lavatórios nos dá uma imagem quase total das nossas pessoas e fundimo-nos no branco cal das paredes. Lambo-a e fundo os dedos nela, a língua, o nariz, enquanto a ouço arfar e a sinto vir-se, na minha cara, com o sexo escancarado que quase me engole. Depois liberto-a das mãos e baixo-lhe a saia, digo-lhe que vá e que leve os dois whiskies para a mesa só que ela recua e especula-me debaixo daqueles dois grandes olhos azuis que me imploram por qualquer coisa. Sorrio e aproximo-me do corpo que ainda ofega e lateja. Lambo-lhe o peito onde a coca se denunciava e beijo-a nos lábios dizendo:
-Tu és linda mas o que acabámos de fazer põe-te na rua em dois segundos. Finge que vieste à casa de banho e leva os dois whiskies para a mesa. Ninguém vai fazer perguntas. O Figgy vai-te apalpar. Não te oponhas. Ele consegue ser um verdadeiro filho da puta quando quer. – E nisto afasto-me para lavar as mãos e sinto-a desaparecer nas minhas costas. O que resta dela, a escorrer pela parede, a escorrer-me pela boca, pelo esófago. 


História de uma Garrafa de Whisky, Conto 7: Suntory Yamazaki Single Malt Whisky

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

sobre coisas pequeninas, tipo detalhes...


A chuva pinga o vidro da janela e emite um som contínuo e húmido, a sonoridade de um líquido a verter sob uma superfície dura. Ela arrasta a meia do collant negro pela perna comprida, passa-lhe os dedos muito firmemente, possui uns dedos delicados e compridos, estreitos, as mãos de uma dançarina, seduz. Depois passa logicamente os dedos pela outra perna, a arrastar a meia daqueles collants negros pela pele vasta de um membro feminino e torneado. Entrevejo só a sua silhueta na penumbra do quarto, em oposição à claridade lunar que atravessa a janela e mergulha o quarto num misticismo sensual. Tem os cabelos avermelhados longos a caírem-lhe pelos ombros, mas num volume exagerado, que se afastam do corpo num vislumbre parado, em torno da face, de feições muito delicadas, bochechas cheias, um tipo redondo, com o nariz pequeno e delicado, os lábios cheios e sensuais, a transpirarem voluptuosidade. Tem uns olhos pequenos, de amêndoa, mas de uma profundidade esmagadora.
O cenário da sua presença fica-me esquecido ao canto do olho, enquanto a passo e lhe deito um olhar de esguia e sigo em passadas distantes de tudo para a porta da esquerda, a da casa de banho. Ela ainda me olha e sorri-me, as sobrancelhas adelgaçadas a emoldurarem um rosto que me é já demasiado familiar. Revela os dentes alinhados, brancos, perfeitos. “Já viste bem os dentes dele? Não? Oh! Repara! E eu que me preocupo tanto com os meus dentes…” sussurra entre o nevoeiro da noite, com um olhar engraçado. Ele tinha de facto uns dentes acabados.

História de uma Garrafa de Whisky, Conto 9