A fuga, começara então por considerar, era perfeita, era exactamente perfeita e, Susan necessitava de uma fuga dessas, quase inconsciente e perfeita, evidente, eficiente! Entretanto a cena foi-se desenvolvendo, o beijo entre o casal, o toque mais aproximado, o unir dos corpos, o penetrar dos sexos, todos esses ínfimos detalhes que uma mãe jamais quer ver a filha praticar mas que, bizarramente, Susan encontrava incrivelmente belos. Ouvia as palavras que eles proferiam, ditas com uma sinceridade desmesurada e desejou trespassar o corpo da filha. Por momentos implorou que a imagem velha e cansada que vestia a abandonasse, que nada restasse do seu visual mundano, que não fosse mais que uma brisa numa noite destas – quente; um toque na melodia de Haendel que ressoava pelo quintal, alto o suficiente para que ela ou James a ouvissem mas que aparentemente nenhum deles escutava; a relva fresca que recebia os corpos dos dois, quentes pelo sangue que neles flui; uma alma que rasteja no mundo concreto, a ansiar por um conhecimento supremo, a viver o vazio de uma maneira que aos olhos de Susan era saudável. E depois de muito pensar concluiu que era necessário encontrar uma fuga tão eficiente quanto a de Teri, um suporte que se apresentasse forte o suficiente, inquebrável, incessável.
E descobriu-o, resguardado entre as suas mãos esbeltas onde as veias precipitavam saltar, tomadas pela loucura e êxtase que lhe envolvia o corpo – a garrafa – o Johnny Walker quente pela fricção dos membros no vidro da mesma – o whisky – cada vez menos, a descer-lhe pela garganta até ao estômago, sem estacar.
História de uma Garrafa de Whisky, Conto 3: Johnny Walker
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