You have to ask yourself what brought the person to this point

quinta-feira, 26 de maio de 2011

redenção, está tudo relacionado com redenção

A fuga, começara então por considerar, era perfeita, era exactamente perfeita e, Susan necessitava de uma fuga dessas, quase inconsciente e perfeita, evidente, eficiente! Entretanto a cena foi-se desenvolvendo, o beijo entre o casal, o toque mais aproximado, o unir dos corpos, o penetrar dos sexos, todos esses ínfimos detalhes que uma mãe jamais quer ver a filha praticar mas que, bizarramente, Susan encontrava incrivelmente belos. Ouvia as palavras que eles proferiam, ditas com uma sinceridade desmesurada e desejou trespassar o corpo da filha. Por momentos implorou que a imagem velha e cansada que vestia a abandonasse, que nada restasse do seu visual mundano, que não fosse mais que uma brisa numa noite destas – quente; um toque na melodia de Haendel que ressoava pelo quintal, alto o suficiente para que ela ou James a ouvissem mas que aparentemente nenhum deles escutava; a relva fresca que recebia os corpos dos dois, quentes pelo sangue que neles flui; uma alma que rasteja no mundo concreto, a ansiar por um conhecimento supremo, a viver o vazio de uma maneira que aos olhos de Susan era saudável. E depois de muito pensar concluiu que era necessário encontrar uma fuga tão eficiente quanto a de Teri, um suporte que se apresentasse forte o suficiente, inquebrável, incessável.






E descobriu-o, resguardado entre as suas mãos esbeltas onde as veias precipitavam saltar, tomadas pela loucura e êxtase que lhe envolvia o corpo – a garrafa – o Johnny Walker quente pela fricção dos membros no vidro da mesma – o whisky – cada vez menos, a descer-lhe pela garganta até ao estômago, sem estacar.







História de uma Garrafa de Whisky, Conto 3: Johnny Walker

terça-feira, 24 de maio de 2011

Querida Leigh,

Dormi durante setenta e duas horas e quando acordei escrevi-te isto. Penso que vou voltar a deitar-me. Continuo a sentir-me terrivelmente cansado. As ideias atravessam-me a mente com tal rapidez que dirias que é mentira, impossível. Cansam-me. Tudo me cansa. Preciso de descansar. Pensei na morte. Não gosto de pôr as coisas desta forma, mas pensei nisso. “Porquê Simon?” quase te ouço perguntar. O que há aqui que não me leve a fazê-lo? Existes tu, sem margem de dúvida. E és mais que suficiente. Mas não és para sempre. Só vais ser um argumento durante mais tempo, prolongar o inevitável. Hoje posso não sair do quarto, posso ficar e beber ou fazer umas linhas. Mas se preferires vou até à sala e vejo um filme ou ouço um disco. Não há diferença no que toca ao fim. Ambos me matam. Ambos me desgastam. Foi essa a diferença crucial que ainda não percebeste – não há diferença. É tarde de mais para haver. Sou um caso tão perdido. Vivo de momentos que estagnaram no tempo. Não voltarão a ser reproduzidos. Tenho tido uma necessidade brutal de falar sobre mim, como se fosse tudo acabar e precisassem de saber exactamente como é que as coisas se passam, se sentem, e conjugam. Talvez fale demais. Não interessa, isso é só mais uma prova de que há coisas a acontecer e agora não sou o único a ter consciência disso. Hoje queria loucamente dormir contigo. O teu calor sempre acalmou o resto que borbulha em mim. Acho que agora simplesmente o abranda. Tenho pena daqueles que não têm para onde ir nessas alturas. Mas sobretudo tenho pena daqueles que não sabem como ir. Eu tenho-te ao lado. E não sei como mas custa-me procurar-te.

Sinto-me aborrecido. A vida é aborrecida. O homem é um ser irrealizado. O teu cheiro faz-me largar o meu pescoço por minutos, faz-me desapertar a corda justa que pende do tecto. Mas como já te disse, não é suficiente. Quero fazer amor contigo uma última vez, deixa-me vir em ti.


Com amor, Si


 
 
Por Simon, em Empty Divisions

terça-feira, 17 de maio de 2011

we

Eles evitam-nos porque sabem que procurar-nos lhes traria demasiados problemas. Nós expomo-nos porque, de facto, somos provocadores e alimentamo-nos da provocação e do choque que ela geralmente acarreta. Nós vamos e embatemos com tudo, explodimos com limites e com convenções. Nós rasgamos as ideias e inovamos com loucura, com desdém, com uma latência de maneiras pouco usuais, pouco…morais. Nós magoamos e recalcamos na ferida com dedos imundos e indecorosos de uma sujidade incomum e dolorosa. Nós fluímos em êxtase e palpitamos sob a noite chamativa, implorando por mais gramas, pelas gotas da bebida que nos endoidece e, nós nunca estamos sozinhos… caminhamos em pares e grupos fundidos que não se desapegam, nem se cansam, nem cessam, que altivos vão fendendo com as estradas e as ruas e as casas. Apregoamos Alá aos deuses dementes do Calígula e ordenamos aos restantes que nos moldem em estátuas de bronze de dimensão extrema com sexos hirtos e vivos. Quebramos com as convenções e não se importam connosco, o que não interessa realmente, porque nós também não nos importamos com eles.




por Alicia, em Suntory Yamazaki Single Malt Whisky