-Tu e eu não temos esses problemas, gata, nós estamos sobre isso. Nós vamos a todo o lado e fazemos tudo. Nós somos imbatíveis. E sabes porquê? – inspiro outro longo trago do cigarro adulterado. Observo-o através de duas pupilas corrompidas e de duas pálpebras arroxeadas. Aguardo. – Porque podemos, babe, porque podemos.
O quarto torna-se subitamente púrpura e a claridade esvanece-se para fornecer lugar a um conjunto luminoso de trevas cuja sobriedade guarnecem o meu quarto de uma potencialidade altamente avassaladora. É tudo sombrio aqui dentro. O Figgy acaba de preparar o crack e estende-me o pipe para que seja eu a primeira a puxar um trago. O fumo corta-me a garganta e cuspo um bom pedaço de expectoração ensanguentada para o colchão negro onde estamos deitados e ao fim de alguns minutos é só mais uma nódoa que tinge o branco cal do nosso suporte de sono. O tronco trabalhado dele liberta um calor inodoro que se visualiza bem como o pó quase imperceptível que ondula no ar, só que agora são ambos perceptíveis devido à tonalidade de luzes que se insere no quarto e explode no ar escurecido. Tento alcançá-lo mas as distâncias que nos percorrem são desmesuradamente absurdas. Envolvida na dormência da droga e em toda uma condicionante que retrai as outras sensações primitivas que regulam os seres humanos decaio num sono imbecil e quase eterno nos braços de uma cama de colcha negra que se insere num quarto onde exclusivamente se realça um azul marinho proveniente das janelas mortiças.
-É o fim da festa, sabes? Isto é o fim da festa. – sussurro por entre a impenetrabilidade do quarto. Ouço-o arfar com a cabeça enterrada nos lençóis frescos. O quarto, em oposição é assombrado por um calor avassalador que provoca o derreter de várias parcelas. Move-se tudo aqui dentro. O meu peito que respira autonomamente, sente-se de um modo pesado e exterior ao restante corpo, numa dificuldade atroz de se suster.
Por Alicia em Suntory Yamazaki Single Malt Whisky
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