Acordo com o bater dos dedos suaves na porta. Estão quarenta grau e o meu corpo está molhado na sua própria transpiração. Há algo de relevante no modo como a janela se mantém aberta. Levanto-me e sinto as primeiras náuseas da ressaca apesar de ainda sentir o desconcerto do alcool. Volto a ouvir as leves pancadas na porta mas é demasiado cedo para alguém importante. Levanto-me e sinto a dor de cabeça que se avizinha e nao há nada que eu consiga fazer em relação a isso. Encho outro copo de Jack Daniels e sento-me à beira da cama. Fui um homem de sucesso outrora, tinha tudo. Sabia fazer tudo, era o melhor fazê-lo, mas algo ocorreu. Algo que não consigo indicar, definir, particularizar. O copo está totalmente cheio e mantem-se fixo nas minhas maos. Sinto na lingua o sabor doce e quente do whisky. Recordo-me de algo ocorrido na noite passada e ia jurar que vi a Sienna, à entrada do hotel sozinha. Os cabelos loiros agarrados à cabeça por um elástico e as suas feições intensas e calorosas. Recordo-me de como falava e procurava desesperadamente intrometer-se na minha vida, ou pelo menos de como o tentava fazer. Quebrar a barreira entre nós, nunca foi um passo acertado."É a lua, não é?" perguntou-me. Longas e quentes lágrimas rompem repentinamente e o copo fica vazio, bem como a garrafa, e só consigo ver a noite, tão postuma perante mim. E disse: "Sim, é a lua."
Por Paul Hudson em Jack Daniels
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