You have to ask yourself what brought the person to this point

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

The only things she sees - details, small things

Acto 13
A cena abre com uma máquina de filmar antiga, daquelas que são carregadas ao ombro. Quem segura essa máquina é a realizadora, filma Mia. Mia está sentada no chão, com os joelhos ao nível do peito e fuma um cigarro. O fumo sai e espalha-se em círculos no quarto. De um momento para o outro há uma inversão e quem filma é Mia. Filma a realizadora que está deitada a um canto do quarto, completamente nua, com o braço esticado acima da cabeça. Parece morta. Parece incrivelmente bonita. Desta vez o oposto sucede. A realizadora é filmada. A que sabe isso?

A cena fecha. Fica tudo negro.

Volta a abrir com a festa da sala. Estão todos a falar uns com os outros. Há fumo e bebidas. Há mulheres com vestidos coloridos e curtos a dançar. Por cima da cabeça de todas as pessoas formam-se bolhas de ar, círculos perfeitos e de diferentes dimensões. É difícil defini-los. Esses círculos misturam-se uns com os outros e fundem-se, como pedaços de gelatina flutuantes.


Mia: Os círculos de fumo são como os círculos da vida. São círculos místicos. São algo mais do que aparentam ser. São uma dimensão, uma ideia, um universo. Emergem de um cigarro para o ar, espalhando-se em esbatidos fios de fumo. Advêm de um cigarro para o outro, para o ar. Os meus dedos atravessam-nos, fundem-nos, mergulham neles. Esses círculos de fumo, círculos místicos que pairam no ar como leves partículas de pó, como plaquetas de oxigénio que se fundem invisivelmente


Por Ann Wallace sobre Mia em Empty Divisions

The moon pulled me up

-Costumava ler os teus livros Paul, eras fantástico.
-Hu-Hu.
-Que se passou contigo? Costumavas ser um excelente escritor...
-Foi... O cheiro, o seu aspecto.
-O cheiro do quê? O aspecto do quê, Paul?
-Dela...
-A tua mulher?
-A minha mulher não é graciosa.
-Não estou certa de te conseguir acompanhar nesse pensamento, Paul.

Olha para mim sedutoramente. Sorri-lhe. Não há visão mais bonita que esta. Deslumbrante. A lua.

Por Paul Hudson em Jack Daniels

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Drugs, Candies and high hallucinations

Sinto tremores e suores pelo corpo, o meu robe de veludo azul está preso a mim, entranhado na carne, através do suor. Vou até ao bar e sirvo-me com um scotch puro que me queima os lábios. No entanto o gosto do whisky é ténue quando comparado ao sabor doce da coca e à moca forte da heroína. E eu sinto a falta delas. Mais suspiros, mais delírios, mais suores. Limpo a testa à manga do robe e sinto-a derreter, a carne empapada a escorrer-me pelos cantos da cara, deslizando junto às orelhas e caindo-me no peito, com uma força vagarosa e abalizada. Os restos de pele pendem-me na testa, a caírem e a taparem-me os olhos, que por sua vez são ferozmente ressequidos pelas luzes fortes projectadas no meu jardim perdido. SENHORES E SENHORAS, ouço-me gritar, como se estivesse fora do meu corpo, hoje o jardim perdido do senhor Loy é exclusivamente vosso. Aplausos, aplausos. E o pano de veludo negro cai. O meu jardim fica envolto numa idealização escura, numa imagem passada. Volto ao bar e sirvo outro scotch, desta vez faço um duplo. Bebo-o de um trago. Os meus lábios rasgam, abrindo-se neles pequenas e dolorosas fendas. No entanto continua sem se assemelhar à moca da heroína. Evito o inevitável. Pego no comando e ligo o projector da sala, imediatamente, esta fica reflectida pelas imagens dos meus filmes, por broches, por quecas, por enrabanços, por esporra, por conas e nádegas. Todas sobrepostas umas às outras.

Por Loy em As duas invenções do Pornógrafo Loy