You have to ask yourself what brought the person to this point

domingo, 9 de setembro de 2012

mad dogs


O quarto escureceu. Alguém se movimenta na escuridão diante de mim. Vejo as sombras esguias e indefinidas a formarem-se no painel negro que me é perceptível e murmuro dois ou três sons antes de dar um passo em falso e o tentar agarrar. A sombra. Espirra. É um espirro muito ligeiro e propositadamente inanalisável. Pela densidade do ar diria que se trata de um homem, mas os movimentos são notoriamente femininos. Escuta-se um arrastar de tecido pela superfície da pele e é tudo demasiado sensual.

Há uma cadela que se rebola pela minha cama e diz que quando quer se consegue transformar em gata, digo-lhe que sou um céptico e depois ela faz com que eu não me mexa mais da cama. Nem sequer me deixa chegar ao pé do meu saxofone, a cadelinha. Diz que ali é tudo dela e que se quero continuar a vê-la tenho de deixar de ser narcisista. Não são as minhas trombas a única coisa de relevante no mundo. Digo-lhe que nem sequer sei o que é que é relevante. Tipo a palavra… relevante…Depois imploro mais um bocadinho e digo que isto é deveras importante e que quando um músico sente a música a fluir-lhe pelo corpo ele tem de a agarrar e de fazer amor com ela para que ela não se vá embora como uma cadelinha ingrata. Ela diz que não se importa, que quem já tem uma cadelinha não precisa de duas. Mas ela não sabe que quem tem uma cadelinha precisa sempre de mais do que uma.
 
 
Conto 6: Ardbeg, História de uma Garrafa de Whisky

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