A loira levanta-se e vejo as nódoas negras que lhe tingem as pernas. Caminha na direcção da cama e sobe novamente para os lençóis da perdição recomeçando com as carícias de um animal insaciado e indistinto. A sua preferência pelo Figgy é claramente notável mas afinal acaba por não me aborrecer porque tudo o resto é chato e enfadonho e deixo de me vir com determinação. Os orgasmos após esses são tão ligeiros, tão indiferentes que saio do quarto com uma sensação que não se despega do corpo e a malícia sobe-me até ao peito enquanto atravesso a cozinha enegrecida e sinto o anseio novamente agitar-se mas a advertência impede-me de regressar ao quarto. Arrasto-me até à casa de banho, latejando e, enfraquecida, afundo-me no chuveiro de água quente onde o meu corpo se reflecte nos espelhos altos arrumados em minha frente. E é tão intenso e exagerado o suor que me escorre do corpo, que me inunda as mãos e as cavidades ósseas e mais resguardadas do físico – que já não me pertence – e que me implora para que o coma e, não sei se é a minha imaginação, mas o coração que pertence ao corpo ouve-se palpitar longe do mesmo, fora, ausente, domável, dominante. A energia regressa e sinto-me subitamente tão capaz, tão possuidora, com uma permanência que dura…para sempre. E tenho a certeza que é necessário tocar-lhe mas receio o toque, com tanta relutância que arrasto primeiro os dedos amenos pelos braços esguios e as pernas estremecem, num vibrar tão patente e veemente, que sinto que não serei capaz de o suportar, nem durante mais um segundo, mas a sensação é… para sempre… E finalmente vou tocando, primeiro muito docemente, com uma suavidade excitante, ahhhh, o peito pulsa e os mamilos esfregam-se pelas mãos e observo o corpo, o suor que persiste em correr. Não ligo a água, deixo-o escorrer e fundir-se com a evidência mais clara dessa excitação e subitamente experimento tudo, as memórias atacam-me e explodem dentro de mim, do corpo, fora, em todo o lado e conectam-se ao estado de tempo, à ausência espacial, à despersonalização do meu ser e os gemidos dos outros dois corpos menos capazes que se completam num vai e vem continuo do quarto do lado, mas tão estupidamente insignificante quando comparado a esta latência passiva que é tão mais orgásmica e finalmente toco lá, no grelo de onde as palpitações fluem e se propagam e eu venho-me… A água corre, o suor escorre, os orgasmos aniquilam-me e essa sensação.. bem essa sensação dura… para sempre.
Por Alicia, História de uma Garrafa de whisky (Conto 7: Suntory Yamazaki Single Malt Whisky)
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