-Eu sei. – diz. – Gostarias de
mim se não fosse bonita?
-Não sei.
-Não sabes?
-Não.
-Porquê?
-Não sei até que ponto isso
manteria a pessoa que és, com as experiências que já tiveste, não sei até que
ponto isso não te tornaria numa pessoa totalmente distinta.
-Acho que te iludes em relação à
beleza.
-Adoro a coragem que tens ao
dizer uma coisa dessas!
-Adoro o teu lado sombrio e
periclitante!
-Porque é que continuas a vir até
aqui?
-Porque me sinto confortável. Não
exiges que eu seja assim tão boa.
Joan acende um cigarro.
-És uma rapariga boa mas que
gosta que a achem má.
-Preciso só de me perder e
deparar-me noutro sítio. Compreendes esse tipo de amnésia?
-Chego lá.
-Como agora.
-Como agora?
-Vou-me deixar ir nesta pessoa
que te ama.
-Não devias fazer isso.
-Não devia fazer muita coisa. –
Crystal levanta-se da cama e começa a vestir-se. – Nem tu. Que estou a fazer
aqui hoje?
-Não era o que querias?
-Não assim, Joan.
-É o máximo que te consigo dar.
Não tenho mais nada.
-Privas-te de ter seja mais o que
for.
-És insaciável.
-Ora, quem não é?
Crystal faz o vestido azul
subir-lhe pelas pernas e enquanto abotoa os botões sente os dois olhos
castanhos fixá-la tristemente.
-Tu és um prazer inconfessável.
-Eu sei.
-Nunca vai mudar?
-Não sei, querido. – Crystal
senta-se na cama e beija-lhe os olhos – Será que vai? Não é assim tão difícil
confessares só que tu és um medroso, é esse o teu bloqueio, tens receio de te
arrepender. Somos seres muito ambíguos eu sei e claro que é excitante. É muito
excitante mas a ti a adrenalina dá-te medo. És um conformista.
-Quero ir visitar-te à tua casa.
-Nós já temos uma casa, vemo-nos
nessa.
-Será?
-Não, pessoas como nós nunca
sabem onde é a casa. És assim tão infeliz aqui?
-Tem dias.
-Responde.
-Não.
-Bem me parecia. Ou então morres
de desgosto mas és demasiado conformista.
Crystal levanta-se e começa a
arrastar-se em direção à porta.
-Tu vives com demasiada
epinefrina. – grita-lhe ele.
-Estou faminta pela vida.
O Pijama da Gata